sexta-feira, 8 de maio de 2015

De onde vem a raiva ao PT?

Como cientista gosto muito de tentar entender as micro-bases dos eventos que nos permeiam.
Durante o último ano, ficou explícita em parte significativa da sociedade uma raiva aparentemente irracional ao PT, algo que me levou muitas vezes à refletir sobre suas reais motivações.

Os raivosos (aos quais normalmente falta o básico da lógica, conhecimento e informação) afirmam que o motivo da raiva é a corrupção gerenciada pelo partido. Qualquer mente razoável sabe que não é este o motivo. A corrupção faz parte da subjetividade brasileira, foi herdada dos colonizadores e não é uma falha, mas sim um autêntico comportamento nacional. Por que a raiva não existia antes então?

Numa outra perspectiva, muitos afirmam que a raiva contra o PT tem base em um processo midiático que ocorre em duas vertentes. Por um lado tem relação com a ação da mídia corporativa massificadora, plantando de maneira indireta esta raiva irracional. Por outro, tem relação com a exposição da corrupção pela mídia, que aumentou a sensação de corrupção que foi então direcionada ao partido da presidente.

Mesmo concordando que o poder midiático massificador tem influencia no processo, acredito que essa mídia seja mais fruto da visão de mundo aristocrática conservadora do que criadora desta visão. Acreditar que as pessoas são bonecos controlados pela mídia é excessiva inocência. É não querer atribuir ao povo a responsabilidade por sua própria desgraça.

E mais, se a sensação de corrupção aumentou, porque ela não se voltou, por exemplo, contra o Governo do Estado de São Paulo, que tem sido muito mais agressivo em termos de corrupção e de deturpação do bem estar social?

Para mim o PT despertou a raiva das pessoas por trair elas. Mais especificamente por trair o pacto de mediocridade social onde todos devem parecer honestos ao serem desonestos.

Primeiramente o PT traiu a imagem da família patriarcal conservadora de bons costumes, com dois presidentes que não se encaixam no perfil homem branco de berço de ouro e família feliz. Na simbologia conservadora, a imagem do partido ficou resumida como "comunista", termo usado de maneira pejorativa nos "protestos pelo impeachment" para agredir o partido.

Segundo, o PT permitiu investigações sobre a corrupção, o que mexeu profundamente com a subjetividade brasileira. O que as pessoas da paulista realmente temem é que esse negócio de investigar corrupções se espalhe, chegando nas micro-relações. Escute mais uma vez os gritos dos protestos e releia mais uma vez as faixas expostas e nas entrelinhas você escutará: "Não quero parar de sonegar imposto", "Não quero parar de dar propina ao policial", "Não quero registrar legalmente e dar direitos trabalhistas para minha empregada", "Não quero que o pobre tenha chances de concorrer com o meu filho em nada", "Não quero parar de trair minha esposa com a secretária", "Não quero falar bom dia ao porteiro" e etc.

Ou seja,  em terceiro, a pequena mudança promovida pelo PT no campo social teve grandes impactos no campo subjetivo brasileiro e a doença institucional se sentiu ameaçada.

Mais que isso, a resposta da doença institucional foi clara no legislativo nacional, tanto em sua eleição como em sua atuação. Leis conservadoras como nunca estão sendo empurradas para a sociedade, que respira aliviada vendo que o imobilismo não esta sendo verdadeiramente ameaçado.

De forma alguma defendo neste texto a corrupção de qualquer partido ou indivíduo (em qualquer nível), porém, devemos ser objetivos e racionais em nossas análises políticas, abandonando comportamentos emotivos juvenis em nossas decisões. De qualquer forma, supor e condenar a corrupção de terceiros sem ser crítico à sua própria corrupção é um exercício medíocre, uma fuga à realidade.

Encerro sugerindo uma análise. Para confirmar, ou discordar, de minhas hipóteses, perceba nas pessoas de seu círculo social que existe uma correlação forte entre comportamento corrupto e raiva ao PT. Se você é um dos raivosos, este exercício pode ser bem difícil, porém revelador.

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