É comum escutarmos os mais velhos dizerem como tudo era mais caro antigamente. Meu pai dizia que teve apenas um sapato durante toda infância (para ir nas missas).
De fato, antes da expansão da produção industrial no Brasil existia uma vantagem no fazer acima do comprar. O dinheiro tinha grande valor por ser utilizado na compra daquilo que não podia se produzir. Em contrapartida, hoje em dia, tudo é fácil de se comprar e difícil de se fazer, de um lado pela aguda divisão do trabalho, por outro lado, pelo aumento da "disponibilidade" monetária para a compra de bens, ou seja, pela mercantilização de tudo.
Aparentemente tudo está mais disponível, porém, para os mais atentos é fácil sacar a futilidade e o vazio dos bens comprados. Por exemplo, antigamente era raro encontrarmos pamonhas para consumo, existia todo um trabalho familiar artesanal para a produção, era uma festa a produção da pamonha. Hoje em dia podemos encontrar cotidianamente pamonhas à venda no comércio. Mas são o mesmo produto? Para mim, esta do comércio é apenas a sombra da verdadeira pamonha.
Existem diversos produtos que eu mesmo faço e que poderiam ser encontrados com pequenos preços no comércio. Polvilho, pão, vinagre, biscoitos, etc. Muitos me dizem que é besteira este esforço, mas estes não entendem que: 1) É divertido produzir seu alimento, 2) que a qualidade destes alimentos são superiores, 3) que sua percepção de realidade é expandida no processo de entender como as coisas são feitas, 4) entre diversos outros benefícios.
Hoje o homem é refém da indústria e esta pouco se importa com sua saúde. Perdemos muitos conhecimentos tradicionais nos últimos tempos devido à disponibilização de bens industriais artificialmente baratos (pois não pagam seus custos ambientais e sociais). Imaginem as diversas receitas de doces de abóbora, pães, queijos, massas, e etc. que se perderam nas últimas décadas devido aos similares de mercado. Imaginem as roupas, calçados, acessórios e etc. que eram feitos de maneira artesanal e desapareceram. Imaginem as costureiras e bordadeiras que hoje, as que restaram, trabalham como que em linha de produção, em trabalhos pouco criativos, normalmente explorados pelas industrias de roupas. Veja os vínculos sociais que se enfraqueceram devido à estas perdas.
Além disso, os produtos quando feitos artesanalmente não tinham valor comercial e eram feitos para terem a máxima qualidade possível, feitos com carinho, com intenção, com ingredientes conhecidos, sem os diversos venenos da indústria. Já os produtos para venda, mesmo os artesanais (ou supostamente artesanais), são feitos para vender, são feitos para ter a qualidade aceitável e o mínimo custo.
Precisamos retomar o controle de nossas vidas, questionar a função das empresas em nossas vidas, assim como a função de nossa educação destruidora de culturas. Devemos questionar todo o conhecimento oco, vendido na base de muita propaganda, que veio para substituir a experiência milenar de nossos antepassados.
quarta-feira, 3 de abril de 2013
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